Os diferentes papéis nos quais você pode usar sua voz em uma música

Olá amigos,

Neste artigo vamos falar sobre diferentes possibilidades de aplicações da voz cantada tais como primeira voz, segunda voz, coro de fundo, coral e conjunto vocal. Para cada uma destas possibilidades apresentamos exemplos em partitura.


texto por Fernando Falci

Encontramos a voz cantada em músicas das mais diversas manifestações culturais provenientes de todas as partes do mundo. Algumas destas formas de cantar podem ter uma sonoridade bastante exótica aos nossos ouvidos, seguindo um sistema de afinação diferente daquele com que estamos acostumados, como na música árabe e indiana ou ainda um sistema de composição menos comum, por exemplo, o sistema atonal. Em nosso curso, estamos aprendendo técnicas para cantar que podem ser utilizadas no contexto da música erudita (“clássica”) de tradição europeia e na música popular em gêneros como o rock, pop, samba, jazz e musicais, entre outros.

Estes gêneros seguem o que chamamos de sistema bem temperado de afinação e têm sua estrutura organizada em ritmo, harmonia e melodia. O ritmo tem relação com o tempo, a velocidade e a acentuação das notas e das pausas. A harmonia costuma ser chamada de acompanhamento; são os acordes que sustentam uma melodia que, por sua vez, é a linha principal que identifica a música. A voz pode ser utilizada para cantar notas tanto da melodia como da harmonia. Vale lembrar que a voz pode ser utilizada para cantar a letra da música ou apenas as notas musicais com vocalizes.

Primeira Voz

O que caracteriza a primeira voz é o fato de uma ou mais pessoas cantarem a melodia principal da música, seja à capela (sem acompanhamento) ou – mais comum –, acompanhada por instrumentos que tocam a harmonia. Quando mais de um cantor está presente, a melodia pode ser cantada em uníssono ou em oitavas, e ainda assim os dois estarão cantando as mesmas notas e, portanto, não se trata se uma segunda voz. As características da voz, tais como o timbre e os trejeitos, ficam em destaque e são bem-vindas pois conferem personalidade à música.

Veja abaixo, no trecho da música “Certas Canções” de Milton Nascimento e Tunai, um exemplo de primeira voz acompanhada por piano:

Segunda Voz

A segunda voz sempre ocorre simultaneamente à primeira voz, que é cantada por outra pessoa. Embora tenham o mesmo ritmo, a primeira e segunda voz têm notas diferentes. São duas melodias paralelas, cujo efeito perceptivo é a fusão das sonoridades. São utilizadas para embelezar, dar peso, realçar ou colocar um certo tempero sonoro em alguns trechos da melodia principal. Em alguns casos, a segunda voz pode ser cantada por mais de uma pessoa e, em arranjos mais elaborados, podemos encontrar mais de duas melodias simultâneas, sendo todas consideradas melodias secundárias. Deve-se ter um ouvido bastante apurado e certo conhecimento de teoria musical para evitar o erro de perder a própria linha melódica e passar a cantar a primeira voz. Veja abaixo um exemplo de primeira e segunda voz em “Love me Do” (John Lennon e Paul McCartney):

Coro de Fundo (Backing Vocal)

O coro de fundo pode ser formado por diversos cantores, um trio, uma dupla ou, até mesmo, por apenas uma pessoa. Se a primeira voz estiver pausada, o coro de fundo pode cantar fazendo preenchimentos do tipo pergunta e resposta; em outros momentos, pode também desempenhar o papel de acompanhamento harmônico, muitas vezes com vocalizes. Deve-se tomar cuidado para que o coro de fundo não se destaque em relação à primeira voz. O coral costuma ter 4 subgrupos que se revezam nas funções de primeira voz, segunda voz, preenchimentos melódicos e acompanhamento harmônico.

 A música “Ela Partiu” (Tim Maia) é um bom exemplo do coro de fundo do tipo pergunta e resposta:

Na mesma música, encontramos o coro harmônico com vocalizes:

Coral

Um coral consiste em um grupo bastante numeroso de cantores divididos em subgrupos conforme sua classificação vocal (sopranos, contraltos, tenores e barítonos). Para que haja uma boa formação de coral, é necessário que haja, em cada grupo vocal, minimamente, três pessoas, mas este número costuma ser bem maior. No coral, as características da voz de cada indivíduo devem ser suavizadas em prol de uma sonoridade mais homogênea para cada subgrupo. A música coral pode estar acompanhada por orquestra, por um único instrumento, como piano ou violão, ou não ter acompanhamento instrumental. Independente das opções, o fundamento do arranjo coral é a sua autossuficiência musical, isto é, todos os elementos de ritmo, harmonia (acompanhamento, perguntas e respostas), melodias principais e secundárias são cantados pelas voz. Veja abaixo os primeiros compassos de um arranjo coral de Marcos Leite para a música “Lua, Lua, Lua, Lua” de Caetano Veloso:

Conjunto Vocal (Ensemble Vocal)

Comparado ao coral, o conjunto vocal é um grupo reduzido. São muito comuns os quintetos, por exemplo, mas, aqui, a quantidade de integrantes pode variar um pouco; além disso, as vozes podem ser masculinas, femininas ou mistas. De forma simples, é como ter um coral com apenas um cantor de cada subgrupo. Portanto, o conjunto vocal apresenta todas as potencialidades criativas do coral. O que o difere do coral é que as características individuais da voz do cantor fica mais evidente. Ou seja, a personalidade vocal de cada membro do grupo se faz mais presente nota por nota. Isso permite ao cantor encontrar mais liberdade para ser criativo pois ele é o único de seu subgrupo vocal. Em contrapartida, sua percepção musical e seu conhecimento técnico da voz são muito exigidos já que não há como se apoiar no subgrupo. O conjunto vocal pode estar acompanhado ou não, e, neste caso, é comum o uso da voz para imitar os instrumentos musicais, fazer ritmos de bateria (“beatbox”) ou mesmo, para compor efeitos sonoros especiais. Em essência, os arranjos dos grupos vocais são muito semelhantes aos do arranjo coral.

Concluindo, neste texto, abordamos as aplicações da voz em um contexto específico dentro do qual se encontra este curso. A este ponto, devemos ter claras três ideias: primeiramente, notamos que a voz pode realizar diferentes funções dentro do arranjo musical: melodia principal (primeira voz), realces na melodia principal (segunda voz), preenchimentos (perguntas e repostas) e acompanhamento harmônico. Em segundo, cada uma destas funções pode ser realizada por um único cantor ou por um subgrupo. Finalmente, o arranjo vocal pode ser mais completo, como no caso do coral ou do conjunto vocal, ou solicitar instrumentação. Todas essas possibilidade exigem o estudo da técnica, da percepção e da teoria musical de formas específicas. A voz, assim como os instrumentos, oferece infinitas possibilidades musicais em troca de muita dedicação.


E então, gostou do artigo? Você pode contribuir deixando seus comentários e se você conhecer alguns exemplos em vídeo basta deixa o link.

Um grande abraço,

Fernando Falci.

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